Ciências Holísticas

A palavra Holística é proveniente do grego em que holos significa inteiro ou todo. O termo foi cunhado por Jan Smuts, primeiro ministro sul africano, que em 1926 no seu livro Holism and Evolution, definiu holísmo como: “A tendência da natureza, através de evolução criativa, é a de formar qualquer “todo” como sendo maior que a soma de suas partes”. [1]

Aristóteles, muito antes disso resumiu em Metafísica que “O todo é maior do que a simples soma das suas partes.” Temos então um conceito muito antigo que em 1926 foi chamado de holísmo e a partir daí passou a ser aplicado em diversas áreas.

Não é novidade, por exemplo, na área da saúde, a ideia de que mais importante do que tratar a dor de cabeça (sintoma), é tratar a causa. Por isso, hoje se fala muito em uma visão holística da saúde, isto é, uma visão que leve em conta o indivíduo como todo, para que se chegue à raiz da causa da dor de cabeça. Esse conceito no hemisfério oriental é muito comum e bem aceito e a partir daí interagem várias práticas integrativas e não apenas um remédio, como é costumeiro na alopatia ocidental.

Hoje, oriente e ocidente vem se encontrando a medida que ambas as formas de tratamento vem se integrando de forma a tratar do indivíduo com as diversas ferramentas que temos. (A física quântica, que é o estudo das energias, vem prestando um papel importantíssimo nesse cenário. Mas isso é assunto para outro post.)

Além da área da saúde, hoje se fala em uma visão holística também na pedagogia, na educação, na psicologia, no ambientalismo e em muitos outros campos de estudo.

Voltando ao conceito de Smuts, o autor aprofunda um pouco mais dizendo que:

“O conceito fundamental da holística como unidade de suas partes de forma tão próxima e intensa que vem a ser mais do que a soma de suas partes; que não apenas dão uma conformação particular ou estrutura para suas partes, mas as relaciona e as determina em sua síntese de forma a alterar suas funções; a síntese afeta e determina as partes, de modo que funcionem para o todo; e o todo e as partes, portanto, mutuamente influenciam e determinam-se um ao outro, e parecem mais ou menos fundir os seus caráters individuais: o todo está nas partes e as partes são o todo, e esta síntese do todo e das partes se reflete no caráter holístico das funções das partes, bem como do todo.”[2]

“The fundamental holistic characters as a unity of parts which is so close and intense as to be more than the sum of its parts; which not only gives a particular conformation or structure to the parts, but so relates and determines them in their synthesis that their functions are altered; the synthesis affects and determines the parts, so that they function towards the whole; and the whole and the parts, therefore reciprocally influence and determine each other, and appear more or less to merge their individual characters: the whole is in the parts and the parts are in the whole, and this synthesis of whole and parts is reflected in the holistic character of the functions of the parts as well as of the whole.” [2]

Pode se concluir que Smuts vê o mundo como um todo integrado, como um organismo vivo. Como um sistema, onde devem ser analisados todos os fatores e dimensões de um determinado fenômeno mas sempre visto em conjunto e não análisado em suas pequenas partes.

Esta ideia, contrapõem-se aos conceitos de Descartes e de Newton e dos pensadores cartesianos e reducionistas que analisam o homem dentro da esfera materialista concentrando-se apenas nas propriedades mecâncias da matéria viva.

Já no século XIX, o filósofo Augusto Comte traz luz a importância do espírito do todo (ou síntese) acima das partes que o formam, trazendo uma compreensão mais adequada da ciência e de seu valor para o conjunto ou o todo, analisando de forma sistêmica a existência humana.

Por isso, essa corrente é também chamada não-reducionista, e vem em contraposição ao materialismo mecanicista ainda dominante na biologia, na medicia e outros campos.

Atualmente, estudos de vanguarda dentro da ciência do caos e complexidade analisam conceitos da chamada ”biologia de sistemas” que vê um organismo como um sistema vivo e não o reduz a mera junção e função de suas partes. O conceito afirma que os sistemas constituem totalidades e são integrados e suas propriedades não podem ser analisadas reduzindo-se parte a parte. Daí a dificuldade em se prever resultados, não obstante a quantidade dados que se tenha de um determinado sistema.

Os organismos interligados formam sistemas e estes equilibram-se com o meio onde encontram-se pela homeostase, que é um estado de equilíbrio dinâmico. A homeostase age tanto no micro quanto no macro e em qualquer sistema analisado.

Nicholas A. Christakis , sociólogo e médico explica de maneira clara que "nos últimos séculos o projeto cartesiano na ciência tem sido insuficiente ou redutor ao pretender romper a matéria em pedaços cada vez menores, na busca de entendimento. E isso pode funcionar, até certo ponto [...] mas também recolocar as coisas em conjunto, a fim de entendê-las melhor, devido à dificuldade ou complexidade de uma questão ou problema em particular, normalmente, vem sempre mais tarde no desenvolvimento da pesquisa, da abordagem de um cientista, ou no desenvolvimento da ciência"[3].

Conclui-se que o conceito é muito antigo e diversos pensadores e filósofos permearam o que muito recentemente foi de fato nomeado como holístico. A partir daí surgem diversas definições e ramificações que hoje se relacionam trazendo luz e dando novo significado a muitos estudos em diversas áreas do conhecimento. Hoje aplicam-se conceitos holísticos desde os estudos da física até as modernas correntes da ecologia.

Poderíamos passar muito tempo apenas para constituir de forma profunda um dos tantos conceitos citados acima. Nossa proposta nesse post é fazer uma passagem bem ampla e geral para que cada um busque aprofundar seus estudos dentro daquilo que mais lhe interessa.

[1][2] Smuts, Jan Christiaan (1927). Holism and Evolution 2nd Edition. Macmillian and Co.

[3] Nicholas A. Christakis, Shorthand abstractions and the cognitive toolkit, 2011.